No início
de 2010, uma matéria exibida pelo programa Fantástico, da TV Globo,
elegeu Salvador como a "capital mais suja do País",
projetando para todo o Brasil uma imagem que se tornou comum aos
soteropolitanos.
O teste
consistia no pedido do programa para as companhias municipais de
limpeza pararem de varrer e coletar o lixo das ruas em uma
determinada área por um dia. O trecho escolhido na capital baiana
(Avenida Sete de Setembro) foi aquele que acumulou o maior volume
entres as sete cidades incluídas: 1,2 tonelada.
O tema do
lixo é uma questão fundamental a ser enfrentada pelo futuro
prefeito, especialmente no que diz respeito a uma política mais
eficiente de recolhimento dos resíduos produzidos pela população
de Salvador. Mas esta é uma questão que só será resolvida com o
apoio e reeducação dos seus habitantes, especialmente no que diz
respeito ao consumo (e o seu descarte) mais consciente, indicam os
especialistas.
Segundo o
professor do curso de engenharia ambiental da UFBA, Luís Roberto
Moraes, a partir da aprovação da Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS), em 2010, o Brasil já possui um conjunto de leis que
não fica devendo a nenhum outro país do mundo. Agora, o problema é
promover um programa de educação ambiental para que a sociedade
participe de forma mais ativa e conscientemente deste processo, o
que, na visão de Moraes, deve durar pelo menos duas décadas.
"A
sociedade precisa entender que ela é corresponsável. No imaginário
popular, existe a impressão de que basta estar em dias com os nossos
impostos para se 'lavar as mãos'. Temos que ter uma nova prática
com o ambiente. Muitas pessoas acham que dentro do seu carro ou do
ônibus é o espaço que deve estar limpo e jogam o lixo no espaço
público, tem esse vício cultural. Claro que aí tem que existir uma
atuação do poder público para fazer entender essa
corresponsabilidade".
Moraes
também indica que é preciso uma grande vontade política para esta
conscientização nas próximas décadas, o que pode ser prejudicado
pelos valores gerados pela indústria do lixo nas grandes cidades.
"É
preciso entender que quanto maior o lixo produzido, maior o lucro das
empresas envolvidas neste processo. Então, é importante saber se o
poder público tem interesse em trabalhar esta questão, que se
tornou um grande negócio nas cidades brasileiras. Lembro que quando
Antonio Imbassahy assumiu a prefeitura de Salvador, ele fez um
mutirão e deixou a cidade limpa. Mas três meses depois estava
praticamente como era antes".
Desperdício
zero - Outro ponto em que a população pode colaborar na questão do
lixo é adotando a meta do "desperdício zero", que em
Salvador tem como um dos seus divulgadores a jornalista e ativista
ambiental Liliana Peixinho, coordenadora do AMA - Amigos do Meio
Ambiente.
"Podemos
começar com uma atitude simples. Por que você vê as pessoas
colocando sempre comida a mais nos seus pratos? Ela não poderia se
servir duas vezes? A cultura do desperdício zero é baseada em
repensar o nosso consumo, quais os valores precisamos formar com
nossos familiares para o planeta. E tanta coisa que não vai servir
para você pode servir para outra pessoa. Precisamos aprender mais a
ter a cultura da reutilização. Um CD velho e riscado na sua casa
pode ser material para um artista plástico. Também não temos ainda
no Brasil a cultura do brechó, de reaproveitar roupas que ainda
podem servir para outras pessoas".
Para
Liliana, a educação passa por mostrar à população qual a sua
responsabilidade em problemas como a questão da saúde pública, que
podem ser minimizados a partir de um consumo mais consciente.
"É
só ver quantas crianças passam por problemas de pele, picadas de
inseto, sujeira que está no ar. Somos diretamente responsáveis por
esta miséria do outro. Não podemos ser tão perversos. Precisamos
entender onde está a nossa responsabilidade neste problema".
Descarte
consciente - Segundo os dados mais atuais da Limpurb, Salvador teve
uma média de 137 mil toneladas de lixo recolhidos por mês, entre
janeiro e outubro de 2012, o que totaliza 1,37 milhão de toneladas
nos dez primeiros meses do ano.
Para a
assessora de Planejamento da Limpurb, Rosa Amália, um importante
marco a partir da lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNR de 2010 é a "lógica reversa" no descarte dos
resíduos, que também responsabiliza as empresas produtoras do lixo
a serem responsáveis pelo seu descarte.
Um
exemplo recente que já vem acontecendo em Salvador como parceria
entre o poder público e as empresas privadas é a coleta de
medicamentos vencidos, por meio do programa "descarte
consciente", atualmente com 10 pontos de coleta pela cidade.
"Já
é um avanço para diminuir o descarte deste material no lixo comum.
Mas agora, para dar certo, depende também do próprio cidadão
adotar este costume".
Fonte: A
Tarde online.
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